sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Série Provérbios de Carolina VIII




Definitivamente nós não estamos acertando o passo. Carolina Maria de Jesus escreveu esse provérbio na década de 60.  Triste ver que ainda hoje estamos fora do ritmo, não estamos dançando conforme a música. 

Provérbios de Carolina - VII




Ah Carolina, que mulher extraordinária. Que sabedoria!

domingo, 4 de dezembro de 2016

Hoje eu tô Down



Não comentei nada sobre a tragédia com o avião que levava o time da chapecoense, são assisti nada na TV, eu não assisto TV, não mais, já faz um bom tempo que não vejo TV, não tenho paciência, não me agrada, nada me satisfaz na TV, me refiro às TVs abertas, sobretudo os telejornais e programas de auditório. Passei muito tempo assistindo na época da adolescência ao início da fase adulta, hoje percebo que nada me acrescentou, só serviu para eu saber os nomes dos artistas. Decadência! Para que preciso saber nome de artista! Ainda bem que me salvei a tempo.
Estou sempre por dentro das notícias, mas sem assistir Tv, se bem que até as notícias que leio, são quase que 100% tendenciosas, fica difícil, mas também não posso ficar à margem, tenho que ler.
Que triste essa tragédia, que comoção. Um time inteiro de futebol, os jornalistas, os tripulantes... tudo muito triste, as famílias que choram suas perdas. De fato, é tudo muito triste. Sempre que ocorre uma tragédia como essa a comoção é inevitável, e nem deveria ser diferente, afinal, poderia ser alguém próximo, eu por exemplo há duas semanas sofri um assalto, os bandidos estavam armados e tudo que eu queria era que aquela agonia acabasse e eu e meus dois amigos que estavam comigo na hora do ocorrido, saíssemos dali bem. Saímos bem. Todos os dias ouvimos notícias de pessoas que morreram durante um assalto, mas eu e meus amigos estamos bem. Perdemos nossos bens, mas o bem mais precioso ficou intacto. Tem coisas nessa vida que não inexplicáveis. Meus amigos que foram assaltados comigo não deveriam estar comigo, pararam a moto no ponto de ônibus quando perceberam que estava deserto e que eu ficaria sozinha, sofram solidários e foram assaltados junto comigo. Maktube? "Não sei... só sei que foi assim". 
Voltando à tragédia, todos os dias somos bombardeados com notícias trágicas, sejam elas envolvendo a vida ou não. Nosso país passa por um momento trágico, estamos numa época em que direitos estão sendo ceifados, em que as perspectivas não são agradáveis, em que tentamos buscar uma saída, mas tão temos opções. Realmente não sei no que vai dar. 
Eu hoje tô down, me lembrei daquela música de Cazuza, Down em mim, e percebi que a tristeza que estou sentindo hoje é porque estou down, não são todos os dias, mas hoje, que parei para ler as notícias, que vi os videos falando sobre a tragédia, que vi mães e pais chorando a morte de seus filhos, fiquei down. 
Espero que amanhã seja diferente, mas o mundo não tem colaborado, ou melhor, a humanidade não tem colaborado. Não devemos nos comover apenas em momentos como esse, tudo de ruim que acontece com alguém deve ser motivo de incômodo.
Melhoremos pois. 
  
 Tatty Alcantara




Uma xícara de café



Na correria do dia a dia
nos devaneios dos meus pensamentos
na agonia 
na selvageria das notícias dos jornais
nas alegorias da vida 
nos posts das redes sociais 
na roda de amigos 
no trabalho 
em casa 
seja onde for 
de que forma for 
uma xícara de café desperta vários sentidos em mim. 
Não sei descrever ao certo... 
só sei que é imprescindível. 



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Para



Para dor de dente, dentista
Para osso quebrado, ortopedista
Para o coração, cardiologista
Para a alimentação, nutricionista
Para jornal, jornalista

Para mudar a educação do brasil...

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Que



A vida está cheia de versos
Eu quero é uma estrofe inteira
que fale de toda minha dor
mas que não se esqueça do amor

que fale das agruras da vida
que mostre alguma saída
em tempos de dissabor

A vida está cheia de frases
Eu quero é um texto inteiro
que caiba tudo que eu penso
que seja leve e ao mesmo tempo intenso. 

Por: Tatty Alcantara


domingo, 6 de novembro de 2016

Projeto Clarice em versos II





Cedo fui obrigada a reconhecer
Sem lamentar
os esbarros de minha pouca inteligência
e eu desdizia caminho.
Sabia que estava fadada a pensar pouco
raciocinar me restringia dentro de minha pele.
Como, pois, inaugurar agora em mim o pensamento?
E talvez só o pensamento me salvasse
tenho medo da paixão.

In: A paixão segundo G.H.: Clarice Lispector. Rocco, 2009. p.13.
Org – Em versos: Tatty Alcantara


Crédito da imagem: google imagens

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Projeto Clarice em versos - 1


Perdi alguma coisa que me era essencial,
e que já não me é mais.
Não me é necessária,
assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna
que até então me impossibilitava de andar
mas que fazia de mim um tripé estável.
Essa terceira perna eu perdi.
E voltei a ser uma pessoa que nunca fui.
Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas.
Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar.
Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta,
era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma,
e sem sequer precisar me procurar.



In: A paixão segundo G.H.: Clarice Lispector. Rocco, 2009. p.9. 
Org em versos: Tatty Alcantara


Crédito da imagem: google imagens

Elixir



Um pouco de calma
acalma a alma
e pouco a pouco
não perder a chance
de novamente
sentir as pernas trêmulas
a mão suar
e o coração disparar



sábado, 22 de outubro de 2016

Dá-me a Tua Mão



Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir – nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.

In: A paixão segundo G.H


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Leandro Karnal explica o que é a PEC 241



Não há melhor definição do que é prioridade neste governo.
Atividade fim: Deve ser incentivada ( o que não acontece)
Atividade secundária: Propaganda do Estado deve ser cortada ao mínimo ou inexistente (Acontece o contrário)


domingo, 9 de outubro de 2016

Evaporar




Evaporar

Tudo que há de ruim
O que afeta teu rim
O que te faz constirpar
O que pesa teus ombros
O que te causa assombros

Evaporar

Tudo que há de mau
Os que nada te acrescentam
Os que se acham melhores
Os piores
Os de alma pequena

Evaporar

Aquilo que te aflige
Aquilo que te entristece
O que não te favorece
Quem não te merece
O que te emudece.
Tatty Alcantara









Stranger Things - Realidade invertida no Brasil




Coisas que só acontece no Brasil.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Ventos de Primavera



É primavera
os ventos sopram cheirosos
e misturam-se
muitas vezes
com ventos nada agradáveis
dos cheiros intrusos
que são depositados no ar
fumaça das indústrias,
lagos e rios poluídos
ruas sujas
lixo
O cheio pode ser bom
e também pode ser ruim
embora tenhamos que conviver com ambos
é na primavera que o cheiro das flores
faz tudo parecer cheiroso
e às vezes até bonito
pois até em meio ao sujo
surge uma flor
e é nela que meu olhar
vai se fixar.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Jogos paralímpicos Rio 2016 na TV aberta - Tá assistindo ao vivo?



A paralimpíada do Rio de Janeiro está ocorrendo, no dia da abertura, muitas pessoas se questionaram o porquê que as emissoras de TV aberta não transmitiram o evento ao vivo. Nas olimpíadas dos atletas “normais”, a programação parou, podíamos escolher em qual casal assistir. Os paralímpicos não tiveram esse destaque e olha que a abertura foi tão linda quanto das olimpíadas. Para não fazer injustiça, a TVE transmitiu ao vivo, porém sabemos que quem ainda está com sinal analógico, quase não vê a TVE. Não é interessante para a mídia, sobretudo para essas TVS pararem sua programação para transmitir jogos de atletas pouco conhecidos, sem “nome”. Não é rentável para eles.

Esses atletas não são conhecidos por vários motivos; falta de incentivo ao esporte, falta de incentivo à inclusão, preconceito, etc. Vimos um Galvão Bueno em total histeria narrando a vitória de Michael Phelps e de tantos outros atletas. De fato, Phelps é um fenômeno, muito provavelmente nenhum outro nadador alcançará a quantidade de medalhas dele, mas... e quanto a Daniel Dias? Nosso atleta nadador paralímpico que só nessa edição do Rio já ganhou duas medalhas de outro, duas de prata e uma de bronze? Sem falar que ele é o único que pode se igualar a Phelps em número de medalhas, porém ele é atleta paralímpico e não compete diretamente com Phelps.

Se pararmos para analisar o quadro de medalhas, os atletas paralímpicos têm rendimento até melhor que os considerados “normais”. Mas essa não é a questão, porque aqui no Brasil, tanto os atletas “normais” quanto os paralímpicos são carentes de incentivo e a maioria vão aos jogos com muita luta e esforço, sem apoio de nenhum patrocinador nem do governo.

Os jogos paralímpicos é uma ótima oportunidade de vermos como as pessoas com deficiência são tão capazes quanto nós que somos considerados normais. A capacidade que eles têm de se superarem e fazerem algo que a maioria consideraria impossível pelo fato de possuírem algum tipo de deficiência. Como seria bom se todas as crianças que são deficientes pudessem assistir aos jogos e verem como elas podem se superar, verem que não precisam ficar em casa por se acharem um transtorno, ou alguém que só vai atrapalhar.


A maior deficiência que a humanidade possui não é a física, essa, é possível superar, a maior deficiência da humanidade hoje em dia, é o desamor. 
Enquanto houver desamor, haverá preconceito. 



Tatty Alcantara

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Provérbios de Carolina IV




Portento - 1. Coisa ou fato extraordinário 2. Pessoal de especial talento. Portentoso adj.

Nesse provérbio, Carolina grafou a palavra portentoso como potentoso, o que em nada comprometeu o entendimento de sua fala.

Prevalecer-se de algo extraordinário ou do fato de possuir algum talento especial contra alguém considerada fraca, é o mesmo que ter uma mentalidade frágil, ou seja, é aproveitar-se da fraqueza do outro em benefício próprio. Esse tipo de gente era considerada por Carolina pessoas de mente frágil.

Em suas obras, vamos percebendo algumas palavras grafadas "incorretamente", mas perfeitamente bem aplicadas se analisarmos a sintaxe de Carolina Maria de Jesus. 



Por Tatty Alcantara

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Carta aberta a Suzana Vieira




Prezada Suzana Vieira, a senhora disse que “as pessoas do norte e nordeste não sabem o que está sendo feito na lava-jato” aí eu pergunto: A senhora sabe? Porque embora tenha dito que não sabemos, a senhora não disse o que está sendo feito. Não compartilhou de sua sabedoria conosco. Pois vou compartilhar agora o que sei:
Sei que se hoje existe lava-jato, é porque o os governos do PT deram autonomia para que a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Procuradoria Geral da República pudessem investigar quem quer que fosse. A maior prova disso são as prisões que já ocorreram, inclusive prisões de políticos e gente ligadas ao PT. Não importa o partido, a autonomia outorgada a esses poderes é total.
A senhora já ouviu falar em Privataria, Banestado, Vampiros da Saúde, Banco Marca, TRT de São Paulo, Anões do Orçamento, Navalha da carne, Trensalão, caso Sudan, Máfia dos Sanguessugas Etc? Já ouviu falar? Sabe o que significa cada um destes termos citados? Quantos envolvidos nestes casos foram julgados, condenados e presos? A senhora sabe, afinal não é nortista, nem nordestina não é mesmo? Mas certamente a senhora responderia que conhece o mensalão, pois para a  mídia sobretudo aquela detentora da grande audiência da TV brasileira da qual a senhora é funcionária, só é interessante noticiar sobre o mensalão. Para essa mídia notoriamente parcial, só existe corrupção em um único partido. Não sou eu quem está dizendo isso, são eles mesmos que noticiam. 
O que sei (mas a senhora parece que prefere fechar os olhos), é que infelizmente, embora esses poderes tenham autonomia, esbarramos numa política extremamente suja, apoiada por grandes empresas e protegidas por meios de comunicação sonegadoras de impostos e detentoras de enorme influência e poder e de um judiciário que a cada dia se mostra mais parcial. É interessante como a lava-jato até agora não prendeu políticos sabidamente e comprovadamente corruptos, única e exclusivamente porque não serem do PT. Não preciso dizer quem são. A senhora sabe, afinal não é nortista, nem nordestina não é mesmo?
O PT errou? Sim errou, sonegou? Sim sonegou. Corrompeu-se? Sim corrompeu-se. Envolveu-se em escândalos? Sim envolveu-se, assim como os demais partidos que já sofreram acusações comprovadas e que por causa da redoma de vidro que possuem, não chegam a ser conduzidos coercitivamente, não sofrem impeachment (golpe), não são condenados, não são presos. Porque será? A senhora sabe, afinal não é nortista, nem nordestina não é mesmo?
Senhora Suzana é inegável a mudança ocorrida neste país após o governo do PT, é inegável que ao incluírem os pobres no orçamento, ao diminuir consideravelmente a pobreza extrema, a fome, ao dar oportunidade de pessoas menos favorecidas terem acesso às universidades, aos cursos técnicos, ao favorecer que uma pessoa que trabalhou anos como empregada doméstica pudesse frequentar uma universidade, ter uma profissão, ou ter direitos trabalhistas nunca antes imaginado, ao dar vez e voz às questões sociais, o Brasil melhorou. A senhora não consegue enxergar isso?
O que te incomoda tanto senhora Suzana? A ascensão da classe pobre? Ascensão essa que lhes permitiu ter uma vida um pouco mais digna? Está com dificuldades de ter empregadas na sua casa, não é? Afinal, em rede nacional, num programa vespertino em que a senhora é atualmente apresentadora, disse em tom de reclamação que aos domingos tem que servir o almoço em sua casa, já que é dia de folga da sua empregada. A senhora queria que a sua empregada trabalhasse de domingo a domingo não é mesmo?  Mas deixa eu te dizer uma coisa, assim como a senhora tem direito a folga, a sua empregada também tem.
Senhora Suzana Viera tenha cuidado com as palavras, ao emitir opiniões como essa de que as pessoas do norte e nordeste não sabem o que acontecem na lava-jato a senhora diz em alto e bom tom que somos pessoas ignorantes e desinformadas. A sua fala é carregada de preconceito. É uma fala que se perpetua desde que o Brasil foi descoberto, é por causa de falas como essa que temos um país tão preconceituoso. Precisamos de mais amor é menos ódio. Falas como essa só servem para propagar o ódio. Cuidado com o silogismo, é preciso saber aplicá-lo. 

Para finalizar senhora Suzana, em cada região desse país, temos culturas riquíssimas, cada uma com suas particularidades, com suas singularidades e pluralidades, nenhuma delas é menor ou melhor que outra. Como é bom sair de um estado para o outro e perceber que embora com culturas distintas estamos no mesmo território chamado Brasil. Temos muitos brasis dentro do Brasil. Vamos respeitar as pessoas do nosso país e não apenas as de uma determinada região. 

Sem mais,

Tatiane  Alcantara



Fonte da imagem: google imagens


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Série - Provérbios de Carolina - III




E quem há de negar que Carolina tinha razão? Foi através de sua inteligência que conseguiu conquistar uma vida melhor para ela e seus filhos, afinal, depois de muita luta, ela deixou o quarto de despejo para viver em uma casa de alvenaria. E sem dúvida isso se deu à sua inteligência. E é interessante como em suas obras, ela destaca a importância do saber. Carolina era pouco escolarizada mas possuía inteligência, e lutava por inteligência, e buscava o saber em livros e revistas que achava no lixo. 
O mundo precisa de mais Carolinas, não a sofredora que vivia em um quarto de despejo, mas de Carolinas que busquem o saber. Não há desculpas para o não saber e Carolina provou isso.

domingo, 31 de julho de 2016

Selfie a todo custo



O homem está acabando com o homem e diminuindo gradativamente a humanidade nossa de cada dia. O homem cada vez mais torna-se perverso, capaz de verdadeiras atrocidades. Cada um querendo ser o centro de todas as coisas, esquecendo de dar lugar ao próximo, de estender a mão ao próximo, de se indignar pelo outro, de demonstrar compaixão aos seus semelhantes. O homem está perdendo a capacidade de ter compaixão.
A cada hora, somos surpreendidos com notícias sobre atentados terroristas, mortes por crimes passional, morte no trânsito, assaltos em ônibus, morte de todo jeito. As estatísticas estão aí para mostrar o quanto a morte passou a ser algo corriqueiro, banal, é notícia certa em qualquer telejornal, estes por sua vez, alimentam-se ferozmente de toda tragédia ou morte anunciada.
O homem está perdendo completamente o senso de humanidade. Em um dos desfiles da tocha olímpica, duas motos da polícia se chocam e os policiais caem um sobre o outro, um homem para e tira uma selfie, faz tudo para não perder o ângulo da foto, os dois policiais caídos, machucados e com as motos caídas e ele só se preocupou em fazer uma selfie. Não se passou pela cabeça desse cidadão socorrer os policiais? Não. Ele se preocupou em registrar a foto. Ele foi capaz de cometer uma barbaridade contra a sua própria espécie, resquício de uma sociedade doentia onde uma imagem vale mais que um gesto de humanidade.

É bem verdade que outras pessoas foram socorrer, o que mostra que não estamos de todo perdidos. Ainda.

sábado, 23 de julho de 2016

Série - Provérbios de Carolina - II






Carolina Maria de Jesus era negra, pobre, favelada, semianalfabeta e possuía conhecimento de mundo. Era dotada de uma sapiência invejável. Trabalha duro para não deixar faltar ao menos o pão para seus três filhos. 
A fome para ela era sua escravatura atual. 
Não se deixava derrotar. 
Não era indolente. 




terça-feira, 19 de julho de 2016

Na fila do supermercado

A tia, já com a coluna curvada, possivelmente pela sua idade avançada e provavelmente por ter carregado muito peso, lenço na cabeça... 
No rosto já marcado pela idade, a expressão de uma vida sofrida. Ela é conhecida por todos no bairro pois tem uma barraquinha de folhas e temperos. É o seu ganha pão. Seu comércio.
Na fila do supermercado, a percebo atrás de mim e peço que passe em minha frente, afinal sua idade já não permite mais pegar nenhum tipo de fila. Ela sorri e agradece. Em sua mão 4 laranjas lima.
No caixa:
- São R$ 2,70
- O quê minha filha?
- São R$ 2,70 tia.
- Mas tudo isso minha filha, 4 limas custa tudo isso?
- Lima é mais caro tia.
- Mas tudo isso? Danou-se. Vou ficar sem merendar!
Ela fica parada sem querer acreditar que não vai levar as limas.
Ofereço-me para pagar. Ela me olha espantada e diz: ôh minha filha é mesmo é? - É sim tia. E peço à moça do caixa para registrar junto com meus produtos.
Ela sorri, deseja-me que eu tenha uma vida abastada e abençoada e que eu receba em dobro. Insiste para que eu vá à sua barraca para pegar um pacotinho de pimenta cominho.
- É a melhor pimenta cominho do bairro minha filha, vem do interior.
Agradeço a benção e digo que não é necessário ela me dar o cominho.
- Mas é dando que se recebe minha filha.
- Já recebi sua benção, isso me basta.
- Então que Deus te abençoe mais ainda.
- Amém. Respondo. E que abençoe a senhora também.

Ela vai caminhado devagar e reclamando do preço da laranja lima. 
– É o fim do mundo, onde já se viu, 4 limas por R$ 2,70. Com esse valor eu compro é uma saca no interior, cidade grande é tudo caro! 




Por Tatty Alcantara

domingo, 10 de julho de 2016

Série - Provérbios de Carolina - I






Carolina Maria de Jesus (1914/1977). Nasceu em Minas Gerais e mudou-se para São Paulo em 1947 onde passou a viver na favela do Canindé. Trabalhava como catadora de papelão e ferros. Tinha três filhos e os sustentava de tudo que ela achava no lixo e vendia. Nas horas vagas registrava o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava no lixo.  Foi descoberta pelo jornalista  Audálio Dantas quando ele foi à favela para fazer uma reportagem, Descobriu sua reportagem em mais de vinte cadernos escritos por Carolina. Ficou conhecia por sua obra Quarto de Despejo - relato diário de tudo que acontecia e viva na favela.
A escrita de Carolina é carregada de dor e sofrimento ao mesmo tempo que se revela uma pessoa esperançosa por vida mais digna. Semi-analfabeta, Carolina mostra enorme sabedoria adquirida ao longo da vida sofrida e das leituras de livros, revistas e jornais que pegava no lixo ou ganhava. 
Em Quarto de Despejo a escrita de Carolina foi mantida, inclusive com seus erros de ortografia e concordância, o que não diminuiu em nada a riqueza de seus escritos, pois é desta forma, que percebemos que apesar de não ter tido estudo, possuía conhecimento de mundo, e enorme sapiência em utilizar as figuras de linguagem e pensamento. 

Carolina possui 6 obras:

1960 - Quarto de Despejo
1961 - Casa de Alvenaria
1963 - Pedaços de Fome
1963 - Provérbios 
1986 - Diário de Bitita
1996 - Antologia Pessoal

Ainda não li todos livros de Carolina, pois a conheço há pouco tempo. Li Quarto de Despejo, Provérbios e estou lendo Casa de Alvenaria. Pretendo ler todos. 
Carolina Maria ainda é pouco conhecia, embora sua obra já tenha sido traduzidas para mais de dez línguas. 
Carolina a meu ver, é essencial, é fundamental, é primordial e deveria ser muito lida, e discutida. 
Tomara que isso um dia aconteça.

Aqui no blog estarei publicando alguns provérbios de Carolina Maria de Jesus na Série - Provérbios de Carolina.


Por Tatty Alcantara


terça-feira, 21 de junho de 2016

O olhar de Sansa na batalha dos bastardos


O nono episódio da sexta temporada de Game of Thrones intitulado batalha dos bastardos, foi para mim o melhor até agora de todos os episódios, não só a batalha, mas o retorno de Daenerys a Meereen e a ação espetacular dos dragões, como também a aliança agora firmada entre ela, os Greyjoys e Tyrion. Muita coisa virá dessa aliança e pelo visto os Greyjoys terão sua vingança contra o tio.

Já a batalha, foi épica, foi a mais intensa e mais esperada de todas as temporadas, acredito que ninguém em sã consciência desejaria um fim com misericórdia a Ramsay. Sempre imaginei que ou Theon Greyjoy ou Jhon daria o fatality em Ramsay por todos os motivos que já conhecemos, mas Sansa, personagem que cresce cada vez mais, mostrou amadurecimento e perspicácia ao alertar Jhon para que não subestimasse Ramsay, pois ela sabia exatamente do que ele era capaz, e foi justamente ela quem deu o destino final do episódio.

Agora uma coisa me chamou muito a atenção: minha reação ao ver a morte de Ramsay. E acredito que tenha sido a reação de quase todos que assistem a série. Uma sensação enorme de justiça feita. Naquele momento em que Sansa chega e com o olhar quase que sem piscar, decreta o destino de Ramsay sem demonstrar piedade, foi o momento em que pensei nos últimos acontecimentos envolvendo casos de estupro no Brasil, e casos de corrupção, mais especificamente alguns políticos. Por um momento, tirei a figura de Ramsay e imaginei alguns políticos ali, sentados naquela cadeira, e imaginei também os estupradores e pedófilos. A falta de misericórdia no olhar Sansa, foi alterada para um desejo e sentimento de justiça, eu não digo vingança, mas sim justiça. Só uma mulher violentada é capaz de dizer a devastação que é passar por uma violência como Sansa passou e como todos os dias centenas de mulheres sofrem. A sentença dada a esses violentadores é extremamente branda e a injustiça que quase sempre prevalece, me fez sentir um misto de prazer, alegria e justiça ao ver a forma como Ramsay morreu. Há de se destacar que a morte de Ramsay não se deu exclusivamente pela violência que Sansa sofreu, mas sim pelo conjunto da obra desgraçada desse personagem tão sádico.

Sentir-se justiçada pela ação da personagem explica a paixão que temos pela história da personagem. E transferir essas ações para uma possível realidade, me fez refletir sobre como somos miseráveis do ponto de vista humanitário, desejar a morte de outrem, nos faz ser tão miseráveis quanto este que tanto mal fez? Não sei, não vou por esse lado, porque entre o desejar e o agir há um longo caminho, desejar, nós desejamos muitas coisas, sejam boas ou ruins, isso é da natureza humana, mas as questões éticas, políticas, religiosas e etc, nos dá freio, pois sabemos das consequências.


Ontem, na batalha dos bastardos, o ponto alto, foi olhar de Sansa que para mim, representou o olhar dos frágeis e sobretudo o olhar da mulher que sofre violência.



Fonte da imagem: google imagens


Tatty Alcantara



sábado, 18 de junho de 2016

Desassossego



Me causa desassossego o barulho, me causa
me causa desassossego a mentira, me causa
me causa desassossego o sistema, me causa
me causa desassossego o veneno da alma

Me causa desassossego o ódio, me causa
me causa desassossego a dor, me causa
me causa desassossego o mal, me causa
me causa desassossego a voz que cala

Me causa desassossego a incompreensão, me causa
me causa desassossego o mensalão, me causa
me causa desassossego a desunião, me causa
me causa desassossego a falta da tua mão

Me causa desassossego as coisas não ditas, me causa
me causa desassossego a palavra mal dita, me causa
me causa desassossego as vidas perdidas, me causa
me causa desassossego as lagrimas sofridas






Tatty Alcantara





terça-feira, 14 de junho de 2016

Vergonha alheia do futebol da seleção brasileira


O último grande jogo que assisti da seleção brasileira foi aquele emocionante jogo Brasil X Holanda Copa 1998: Brasil 1x1 Holanda (Pênaltis: 4x2 Brasil). Aquela imagem do velho lobo Zagalo chamando os jogadores, pedindo raça e emprenho, foi inesquecível. Tafarel foi imbatível e o a seleção venceu.

 

O Brasil não ganhou aquela copa mas esse jogo ficou marcado. Em 2002 foi campeão, conquistou o penta, mas ainda assim, não teve aquele brilhantismo de 94 e daquele jogo contra a Holanda. Mas foi competente e conquistou o título. Depois disso, tivemos uma sucessão de fracassos que culminou em nocaute, ou fatality, naquele inacreditável 7x1 da Alemanha. Vai demorar muito, muito mesmo para que um outro jogo da seleção se sobreponha a essa vergonha.

 

Agora a seleção passa pelo vexame de perder na primeira fase da Copa América num grupo com seleções fraquíssimas e que em outras épocas a seleção derrotaria todas elas facilmente e com  muitos gols. 

 

O que está por trás dessa sucessão de fracassos? O técnico? Longe disso, embora não considere Dunga o técnico ideal, ele é o menos culpado de tudo isso. A CBF, instituição que comanda o futebol brasileiro, ainda é comandada por um homem que é investigado por corrupção e que se sair do Brasil corre o risco de ser preso. Só não é preso aqui.

 

Enquanto a CPF for comanda por corruptos, a seleção brasileira nunca mais ganhará nada, isso está muito claro. Não se vê mais aquela vontade de jogar na seleção, antigamente um jogador quando era convocado era motivo de orgulho, chorava e comemorava. Hoje tem jogador que esnoba, pede dispensa da seleção, se deixa dominar pelo clube. A prioridade hoje dos jogadores brasileiros é jogar na Europa, fazer fama e dinheiro. Lamentável. Enquanto isso, assistimos a Eurocopa com seleções que antes não tinham tradição no futebol crescendo cada vez mais, e apresentando um futebol digno de daquele que antes era admirado no mundo inteiro: O antigo futebol brasileiro. 




Tatty Alcantara

segunda-feira, 13 de junho de 2016

A inumanidade nossa de cada dia

O que somos de humanos, somos de desumanos. Pouquíssimas pessoas são capazes de apontar o dedo para si. Ninguém se julga, isto deve ficar para os outros a quem sempre enxergamos imperfeições. A proporção que a humanidade foi crescendo, também é a mesma que foi se tornando egocêntrica e isso é muito triste.
O humano está em danação, em profunda danação, e só o reconhecimento do quão miseráveis somos, do quão estamos dependentes de uma misericórdia divina, é que pode quem sabe nos salvar.
Precisamos de compaixão.

A humanidade só terá salvação quando uma epifania nos fizer ver que só o amor é capaz de nos salvar. Pratiquemos uma ode ao amor e não ao ódio. O ódio só nos leva para baixo e o que está embaixo é tão ou mais feio que o inferno nosso de cada dia que é a inumanidade.




Tatty Alcantara

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Que é que isso hein?



E mais uma vez o assunto violência contra a mulher toma as redes sociais. Desta vez foram agressões verbais. Infelizmente tem muita gente que acha que agressão é só aquela que tira sangue. Aviso aos navegantes: não é.

Depois de tanto disse-me-disse e de me perguntarem - você viu o que Biel falou? Perguntei -  Bial? Não, Biel o cantor.

Eu não sabia que existia um “cantor” de nome Biel. Me explicaram quem ele era e o que ele fez. Então fui pesquisar sobre a tal figura e fiquei estarrecida com a quantidade de seguidores que esse menino tem e mais estarrecida ainda em ver que na verdade, ele não tem talento nenhum a não ser enorme habilidade de tirar fotos sem camisa.  Essa criançada está carente de ídolos. Na verdade, a idolatria não é nada sadia, muito menos quando o idolatrado não acrescenta nada a quem o idolatra.

As palavras que esse menino reproduziu nada mais são do que a repetição over and over do já ouvimos desde que nos entendemos por gente, é a perpetuação do macho adulto branco sempre no comando como diz a canção. Reflexo da criação machista e da necessidade de autoafirmação. Tem que dizer que é macho, tem que dizer que pegador, tem que dizer que come, e tem que dizer que mulher quando quer um homem só precisa abrir as pernas. Ah Biel! Tem que comer muito feijão com arroz. Você não entende nada de mulher, você é apenas um rostinho bonitinho com corpinho saradinho produzido pela indústria fonográfica para fazer dinheiro.


Baixa a bola e vai estudar, vai fazer aula de canto porque você está precisando viu!