Perdi alguma coisa que me era
essencial,
e que já não me é mais.
Não me é necessária,
assim como se eu tivesse perdido
uma terceira perna
que até então me impossibilitava de
andar
mas que fazia de mim um tripé
estável.
Essa terceira perna eu perdi.
E voltei a ser uma pessoa que nunca
fui.
Voltei a ter o que nunca tive:
apenas as duas pernas.
Sei que somente com duas pernas é
que posso caminhar.
Mas a ausência inútil da terceira
me faz falta e me assusta,
era ela que fazia de mim uma coisa
encontrável por mim mesma,
e sem sequer precisar me procurar.
In: A paixão segundo G.H.: Clarice Lispector. Rocco,
2009. p.9.
Org em versos: Tatty Alcantara
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