Mia. Era uma menina muito meiga, alegre e
adorava brincar.
Mia só tinha um problema: não gostava de
comer.
O horário do almoço era algo digno dos
contos de Edgar Allan Poe, tinha personagens, enredo, bichos e ruídos que
causavam medo. Funcionava assim: A avó de Mia, uma doce Rosa, ia para o quintal
da casa, e acompanhando a narrativa de quem alimentava Mia, fazia os efeitos
acontecerem. Pedras no telhado, sons de bichos, galhos, e tudo que possa
imaginar. A doce Rosa era uma figura. Um doce de pessoa.
A narrativa comia solta, e a cada frase, a
cada som que ouvia vindo do quintal, correspondia a uma colher de comida que
Mia comia.
No final da narrativa, o prato de Mia
estava praticamente vazio. Comera: carne, feijão, arroz e farinha.
No dia seguinte, ao perguntar a Mia o que
ela queria comer, ela respondia:
- minha avóooo, quero carne, feijão, arroz e
farinha.
E assim novamente se iniciava toda a tramoia construída para que Mia,
se alimentasse.
Mia era feliz, fazia algo que não gostava
de fazer, sem precisar que gritassem com ela, sem precisar que batessem nela.
Apenas com a inteligência da doce Rosa, que no alto de sua sabedoria, sabia
driblar todas as adversidades da vida.
Por Tatiane Alcantara
Para vovó Rosa, que era minha avó de coração.