A detração – breve ensaio sobre o maldizer
Tatiane Alcantara Silva[1]
KARNAL, Leandro, 1963 - A detração: breve ensaio sobre o
maldizer – São Leolpodo: Ed. UNISINOS, 2016.
Em A detração – breve ensaio sobre o maldizer,
Leandro Karnal apresenta em 102 páginas, uma reflexão história, religiosa e
filosófica sobre o hábito de falar mal dos outros, como aponta o próprio autor.
A escolha da palavra detração é bem interessante na medida em que não é
usada habitualmente. Detração é uma palavra do gênero substantivo feminino, que
no Houaiss encontramos apenas o verbo transitivo detratar (depreciar,
desvalorizar), ou detrator (quem detrata). Na consulta VOLP, designa apenas
como s.f., ou seja, substantivo feminino. Detração pode ainda significar:
depreciação, menosprezo, uma expressão maledicente ou difamação.
Tanto Detração quanto maldizer, são palavras que de
forma não muito popular, designa o ato de fofocar. A fofoca sim, é conhecida no
uso habitual da língua portuguesa. A prática da fofoca é notável em qualquer
lugar, seja cidade, comunidade, numa determinada cultura, em ambientes rurais,
em linguagens informais e também formais, em ambientes refinados e em grupos
sociais distintos. A fofoca está em todo lugar. O ato de detratar alguém, só é
agradável por motivos óbvios ao detrator, este por sua vez, sente uma espécie
de ânimo, uma alegria inexplicável, beirando ao sadismo.
Na maioria das vezes a fofoca é algo impensado, a
pessoa preocupa-se apenas em maldizer o outro, sem pensar na veracidade dos
fatos e nas possíveis consequências que quase sempre são devastadoras e
irreparáveis para quem sofre a fofoca.
O autor inicia o livro com um vocativo quando pede
que o leitor não pule a brevíssima introdução, e de fato, é primordial que se
faça a leitura da introdução, pois é nela que Karnal discorre sobre os
significados das palavras e de que forma vai apresentar seu breve ensaio sobre
o maldizer.
Karnal faz um passeio sobre a detração ou ato de
fofocar através da história, da política, da religião e do preconceito. É uma
leitura dinâmica, leve e em muitos momentos bem-humorada. Na medida em que a
leitura avança, o leitor é levado a inúmeras reflexões, situações diversas vão
aparecendo e revelam ao leitor o quanto ele pode ser fofoqueiro, e o quanto
possivelmente já tenha feito mal a alguém, assim, nos revela de forma
interessante que de agora em diante é necessário ter cuidado no trato das
palavras e daquilo que se profere sobre algo ou alguém, obviamente que isso só
é possível ao leitor que se dispõe a apontar o dedo para si.
[1] Formada em Letras com Habilitação em Língua
Inglesa e respectivas Literaturas pelo Centro Universitário Jorge Amado –
Salvador/BA.
Fonte da imagem da capa: http://www.edunisinos.com.br/
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