sexta-feira, 11 de abril de 2014

#MiniConto 1 - Na calada da noite

Era por volta de três da manhã.
Acompanhada de seus amigos, companheiros, de risos, cafés, CDs de Caetano, Chico, Los Hermanos e tantos outros, vindos de um show fanta laranja, cantando pelas ruas, madrugada à dentro. 
Na calada da noite, no silêncio que só a noite proporciona, eles, seus amiguinhos, são os únicos que ao avistar aquele grupo barulhento, rompendo o silêncio, parece de fato entender o quão bonita é a escuridão. 

- Meus amiguinhos! Grita ela, sob o efeito de várias latas de Smirnoff ice.

- Os brasileiros não sabem como tratar a sua gente! 

Grita a outra, num idioma que chegava muito próximo do espanhol, e que naquele momento todos tinham a certeza que era espanhol. E eles sorridentes, retribuem com sorrisos e buzinas. 

- O que seria das ruas sem os lixeiros? Grita ela.

E foi assim que nasceu uma amizade que dura até hoje. Onde quer que ela vá, tem sempre um lixeiro que lhe sorri, ou que buzina lhe chamando a atenção. E desde então, ela olha para essa gente com olhar terno, de quem reconhece o quão duro, desvalorizado, e discriminado é o seu trabalho. E o que é mais intrigante, é que sem eles, todos, sem exceção, viveriam num lixão. E mesmo assim, são vistos com olhos diminutivos.


Acordemos. 

Por Tatiane Alcantara

7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Quantos de nós nunca teve "um amigo" assim uma vez na vida? todos somos partes de uma única peça, mas o que seria da bailarina sem as suas sapatilhas? Todos sabem que sem elas a bailarina não poderia dançar, mas só olhamos a doce bailarina rodopiar para lá e para cá.

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    1. Obrigada Calisto. Você é uma pessoa com quem quero sempre trocar figurinhas.

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  3. Muito legal, Tatiane. Rápido e prazeroso de se ler. Que venham muitos mais!!!

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    1. Professora Marília, muito obrigada, vindo de você, a quem aprendi a admirar, é muito bom. Fiquei sua fã depois daquela rápida conversa que tivemos sobre filmes antigos.

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    2. Muito legal, Tati! Linguagem rápida, leve, e acessível, como devem ser os contos. Parabéns!

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  4. Parabéns Tati!
    Achei muito legal, que venham mais!

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